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Espontaneidade que conquista

  • por em 23 de dezembro de 2016

“Minha mãe é uma peça 2”

Não tenho mais paciência com o ator Paulo Gustavo. Sempre as mesmas piadas, muita gritaria, um carioquês forçadíssimo, exageros desnecessários. Talvez isso aconteça pela repetição dos mesmos personagens, assim como acontece com Fábio Porchat, Tatá Werneck, aqueles caras do extinto “CQC” e até com o próprio Marcelo Adnet, se ele não acabar se cuidando… Mas se tem uma personagem que cai como uma luva pra Paulo Gustavo é a Dona Hermínia. A protagonista de “Minha Mãe É Uma Peça 2”, que acaba de estrear nos cinemas da capital, parece que foi feita sob medida pra ele. Talvez porque ele se inspira na própria mãe para criá-la, tudo fica muito natural. Até a implicância fora do normal e os gritos incessantes da mãe superprotetora e desaforada em nenhum momento se tornam cansativos, tamanha a identificação do ator com a personagem. Assim como em “Minha Mãe É Uma Peça – O Filme”, sucesso estrondoso de 2013 com cerca de 4,6 milhões de espectadores, a maior bilheteria nacional daquele ano, o segundo filme da série é diversão na certa. O melhor retrato daquele velho ditado de que não se mexe em time que está ganhando. Por isso, mesmo correndo o risco de se repetir, Paulo Gustavo (que, novamente, é coautor do roteiro, ao lado de Fil Braz) acerta, faz o povo rir com seus tipos populares e cumpre seu papel, mais um vez, com uma boa conexão com o público.

Na história, Dona Hermínia reaparece, sempre espevitada e sem papas na língua, mas desta vez rica, pois passou a apresentar um bem-sucedido programa de TV. Porém, a personagem superprotetora vai ter que lidar com a “síndrome do ninho vazio”, afinal Juliano (Rodrigo Pandolfo) e Marcelina (Mariana Xavier) resolvem criar asas e sair de casa – em momentos distintos, eles vão tentar a vida em São Paulo e abandonam a mãe louca, desesperada e dramática em Niterói. Para balancear, Garib (Bruno Bebianno), o primogênito, chega com o neto dela, e Hermínia também vai receber uma longa visitinha da irmã Lucia Helena (Patricya Travassos), a ovelha negra da família, que mora há anos em Nova York. A outra irmã Iesa (Alexandra Richter), Tia Zélia (Suely Franco) e a empregada Valdeia (Samantha Schmütz) também movimentam a historinha.

E, como havia dito, se a mística é não mexer muito no time porque a vitória é certa, o objetivo foi alcançado. Apenas. O investimento aumentou (é nítido que o filme está mais bem produzido e acabado), a recreação continuou, mas o roteiro não faz mais do que sua “obrigação” ao divertir levemente, sem a presença de uma boa trama para prender o público. Dá aquela sensação de desperdício, porque não existe algo consistente acontecendo, mas mesmo assim o espectador quer ver o que vai acontecer logo depois – como se o filme fosse uma novelinha, com seus altos e baixos, num misto de comédia e emoção, sensibilidade e diversão.

Friso sensibilidade e emoção porque até isso o filme tem. Sem prolongar muito pra fugir dos spoilers, o filme, do nada, abandona as cenas engraçadas para falar de saudade. Na tal novelinha do roteiro linear, cheio de “episódios” no mesmo filme, cenas de despedida marcam o longa. Seja na despedida para sempre de uma personagem querida (assim como aconteceu no primeiro filme) ou no afastamento dos filhos, a saudade ali demonstrada pode até soar como forçação de barra dramática, mas juro que até emociona.

O fato é que o filme acaba, e você já começa a sentir saudade de Dona Hermínia. O carisma e o desembaraço de Paulo Gustavo são tão presentes que, no fim da sessão, até dá pra esquecer a implicância com ele. Isso se chama espontaneidade, irmã da naturalidade, prima da originalidade, amiga íntima da simplicidade: um círculo viciante que tem o sucesso (e boas risadas) como particularidade.

luiz-cabral-

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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