“Antes que Eu Vá”
Lenine e Paulinho Moska sempre cantam: “Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia?”. Um dia, apenas. Nem mais, nem menos. “Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? (…) Abria a porta do hospício? Trancava a da delegacia? Dinamitava o meu carro? Parava o tráfego e ria?”. Não temos essa escolha, mas o que você faria se só te restasse um dia? Ou melhor: e se esse seu último dia ficasse repetindo, repetindo, repetindo… tudo para que você percebesse o que seria realmente importante fazer nesse último dia? Esse é o mote do filme “Antes que Eu Vá”, da diretora Ry Russo-Young, inspirado no livro best-seller com o mesmo título – que fez sucesso em todo o mundo – e que estreia neste fim de semana nos cinemas.
Foco no roteiro adolescente: Samantha Kingston (Zoey Deutch) tem tudo o que uma jovem pode desejar da vida: é superpopular, namora o cara mais desejado do colégio e tem as melhores e mais divertidas amigas que poderia pedir. No entanto, essa vida perfeita chega a um fim abrupto e repentino num sábado, dia como outro qualquer se não fosse o dia de sua morte. Porém, segundos antes de realmente morrer, ela terá a oportunidade de retornar e mudar até mesmo seu próprio destino – e das pessoas a seu redor, claro.
A partir daí, a produção se torna interessante (pois queremos saber que maluquice é essa de o dia se rebobinar assim naturalmente) e, ao mesmo tempo, chata (pois a repetição do acordar no sábado, passar por tudo aquilo que ela já viveu, esbarrar nas pessoas que já encontrou e tentar mudar algo que ela nem sabe o que é deixa o filme lento e intragavelmente misterioso).
O que você faria se só te restasse um dia? Ou melhor: o que você faria se soubesse que é seu último dia e que pode mudar algo em sua história? Nessa mistura de angústia e reflexão, Sam fica voltando sempre para o mesmo dia, repetidas vezes, como disse, até finalmente conseguir desvendar o mistério que envolve sua morte. Mas, enquanto não descobre, ou seja, durante todo o filme, ela fica nas eternas tentativas de fazer diferente. É nessas idas e vindas que ela acaba descobrindo o verdadeiro valor de tudo o que está prestes a perder. E é essa a maior reflexão do longa.
Mas, em se tratando de produções adolescentes, principalmente em tempos de “13 Reasons Why”, outra reflexão é iminente: o bullying também está presente e abre outra discussão pertinente. Tudo é muito estereotipado e clichê, mas é justamente para o jovem entender. Se, por um lado, o ar adolescente pode te cansar, até mesmo pelo fato de o roteiro passar por temas recorrentes de uma “Malhação” típica, a trilha jovem é uma delícia, a bela e sombria fotografia é propícia, e a lição final é bem auspícia.
O que você faria se só te restasse um dia? “Corria para um shopping center ou para uma academia? Pra se esquecer que não dá tempo, pro tempo que já se perdia?”. Me diz o que você faria: vai correr pro cinema ou vai deixar esse filme juvenil em cartaz feito uma alegoria?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.