As ruas do carnaval de Belo Horizonte já me viram fantasiada de muitas coisas, é ali que se transforma a tristeza em alegria, brilhando o céu, de um novo dia. O carnaval só existe se estiver transitando na rua, livre, num canto de amor, feito por todxs e para todxs.
Estamos em outro momento da pandemia e eu sempre fui cuidadosa. Tenho flexibilizado a medida que vou me sentindo segura. Voltei a frequentar mercados, restaurantes, exposições, inaugurações, viajei no ano novo e quando chegou o carnaval, eu não aguentei. Tenho me sentido mais tranquila com a taxa de transmissão baixa e a ocupação dos leitos controlada. Ainda que estejamos vacinados, com as doses de reforço em dia, entendo que não era hora de promover a aglomeração de milhões de pessoas nas ruas, devido as variantes. Sabemos também, que não são apenas os números e a preocupação com a saúde, que influenciam essa decisão, muitos interesses econômicos e políticos estão envolvidos. Não sou contra as festas fechadas, acho que elas podem e devem acontecer, mas não apenas. Estamos acompanhando a retomada de várias atividades como jogos de futebol, cultos, shows, eventos, festas de casamentos, boates, festivais e os mesmos critérios que fizeram a cidade fechar, agora, autorizam a abrir.
O que vi então, nas ruas esses dias, foi um grito dizendo que: o carnaval resiste.
Era como 2012. Sem organização, sem carro de som, nem estrutura. As mensagens chegavam com o endereço, e amigos iam dando notícia da localização do bloco. Está colocado o desejo de juntar, ocupar, celebrar, viver a alegria e dizer para o mundo o que se sente. Em cada canto uma esperança. Nos olhares, a alegria de estarmos juntos, mesmo sem nos conhecermos. Um tropeço? As mãos estendidas. A solidariedade de quem joga água nos foliões com uma mangueira, é de emocionar. Na ladeira íngreme e pesada, todos ajudam o ambulante com o carrinho e se alguém está perdido, muitas vozes gritam um nome, em prol do encontro.
“É tanta alegria, adiada, abafada. Quem dera gritar. Todos se guardando pra quando o carnaval chegar”.
Pensei muito sobre escrever esse post. Quem acompanha o BH Dicas há mais tempo, testemunhou o amor pelo carnaval sendo construído ano após ano, dentro de mim. Fui entendendo a arte, a força, a beleza e a magia que acontece nesse período que faz com que eu renove minha crença na humanidade. Todo fevereiro, volto a acreditar. Por isso, vim contar minha experiência e reforçar minha defesa por esta festa popular. Hoje pela manhã fiz o teste, deu negativo. Vou seguir isolada e acompanhando. Me cuidando, com a certeza de que em 2023 estaremos juntxs.
Um beijo
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.