Recentemente, um tanto quanto surpreso, me dei conta da seguinte constatação: muitas das pessoas próximas a mim, que tenho a maior admiração, não fazem a mínima ideia do que fazer na vida. E, ao contrário do que possa parecer, essas pessoas nem de longe estão à toa por aí. Elas trabalham, tem sua vida constituída, família, etc. Ao mesmo tempo, porém, parecem carregar em si uma energia sobressalente, alguma coisa que sobra, um excesso, uma vontade de fazer algo diferente do que fazem. Muitos poderiam dizer que estão perdidas. Será mesmo?
Muitas histórias extremamente interessantes e curiosas que conheço são aquelas em que o “acaso” fez sua aparição. São histórias que seguiam um dado rumo e que, sabe lá por qual motivo, mudaram de rota, de ponta à cabeça, da água pro vinho e vice-versa. Particularmente, não acredito em destino, mas consigo ver e até mesmo já experimentei das surpresas e belezas de casos e acasos como esses. Uma ideia sobre o acaso é que essa energia acumulada, esse excesso, a cada dia, a cada hora, ao se fazer presente, cresce e ganha corpo, tal como uma escultura (de argila, quem sabe). Num dado instante, essa escultura, não cabendo mais em si, precisa se fazer notada. O acaso, então, seria isso que surge e que faz com que isso que estava sendo alimentado há muito tempo exija seu lugar. Independentemente se o destino existe ou não, ao menos essas pessoas existem, isso é o bastante.
A felicidade na vida tem a ver com isso, é sempre um enigma, feito sob medida para ser desvendado por cada um, a cada momento. Posso dizer que já pude presenciar como isso é possível de diversas maneiras e em todas elas parece haver algo em comum: por um lado, certo desencantamento com a vida vivida, tal como um dia disseram que era o certo a ser vivido; e, por outro, esse excesso mencionado acima, isso que sobra, esse algo além que cresce até chegado o dia.
Há pouco tempo, uma amiga postou, inclusive, uma foto que continha duas frases do Guimarães Rosa que, combinadas, tratavam justamente desse tema, afirmando-o e advertindo-o. A primeira frase é a seguinte: “Tudo o que muda a vida vem quieto, no escuro, sem preparos de avisar”. A segunda, tal como uma advertência, diz assim: “Cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo”. Ambas as frases estão no livro Grande Sertão: veredas.
Se for assim como Guimarães Rosa diz, é preciso então estarmos sempre atentos à vida, pois quando a luzinha de um acaso se ilumina no escuro pode ser bem mais que um simples presságio. Pode ser você se dando a chance de conhecer algo sobre um desejo.
Um Abraço,
Crédito da Foto da Capa: Samir Honorato
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Samir, seu texto exprime sensibilidade, criatividade e sabedoria. Belas palavras!
Obrigado pelas palavras, Rafaela. Abraço,
Muito bacana o seu texto Samir! “Num dado instante, essa escultura, não cabendo mais em si, precisa se fazer notada. O acaso, então, seria isso que surge e que faz com que isso que estava sendo alimentado há muito tempo exija seu lugar”. Esse trecho, em especial, me tocou e me fez lembrar de uma pessoa especial, que está com seus sonhos adormecidos! Vou recomendar a leitura imediata de seu texto a ela!
Que bonito isso, Aline! Muito obrigado mesmo! 😉
Samir, seu texto exprime sensibilidade, criatividade e sabedoria. Belas palavras!
Obrigado pelas palavras, Rafaela. Abraço,
Muito bacana o seu texto Samir! “Num dado instante, essa escultura, não cabendo mais em si, precisa se fazer notada. O acaso, então, seria isso que surge e que faz com que isso que estava sendo alimentado há muito tempo exija seu lugar”. Esse trecho, em especial, me tocou e me fez lembrar de uma pessoa especial, que está com seus sonhos adormecidos! Vou recomendar a leitura imediata de seu texto a ela!
Que bonito isso, Aline! Muito obrigado mesmo! 😉