“Lady Bird”
Não vá ao cinema achando que “Lady Bird: A Hora de Voar”, da diretora Greta Gerwig, é um filme comum, desses de adolescentes que você vê por aí aos montes. É muito mais do que isso, não tenha nenhuma dúvida! O longa, que concorre ao Oscar 2018 em cinco categorias – melhor filme, direção (Greta Gerwig), atriz (Saoirse Ronan), atriz coadjuvante (Laurie Metcalf) e roteiro original –, fala de muitos assuntos e não mostra só os problemas da adolescente em questão, mas os de toda a família. Tudo isso numa produção espontânea e despretensiosa, daquelas que você assiste feliz, se divertindo, com um sorrisão no rosto.
No filme, Christine McPherson (Saoirse Ronan, que arrebentou em “Brooklin”, em 2015, e está ainda mais incrível neste papel) está no último ano do ensino médio, e o que ela mais deseja na vida é fazer faculdade longe de Sacramento, uma pequena e pacata cidade na Califórnia. Sonhadora, ela quer criar asas para poder voar para bem longe de casa, de preferência para Nova York. Apesar desse ponto de vista ser firmemente rejeitado por sua mãe (Laurie Metcalf), que sempre exigiu demais dela e nunca foi de elogiá-la, Lady Bird, como gosta e exige ser chamada, segue com sua forte personalidade na ideia fixa de uma mudança radical em sua vida.
A relação entre mãe e filha adolescente é a mais visada, claro. Já nas cenas iniciais, o público se surpreende com a personalidade intempestiva da jovem: após aparecer tranquila escutando rádio no carro, batendo um papo tranquilo com a mãe, que estava dirigindo, ela se joga do veículo em movimento após culminar uma discussão. E não demora para que o espectador entenda por que a relação delas é tão complicada.
A condição financeira de sua família, no entanto, não ajuda a mudar esse cenário mãe x filha ou a facilitar a realização de seus sonhos. A mãe mostra a dura realidade para a filha, na tentativa de fazê-la desistir de seu objetivo. Daí, a adolescente se rebela. Ela, então, se divide entre as obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, os típicos rituais de passagem para a vida adulta e os inúmeros desentendimentos com a progenitora para o tempo passar e sua hora finalmente chegar.
E é em seu pai (Tracy Letts) que ela vai encontrar a esperança para seguir buscando sua meta. A mãe sempre diz: “Ela sempre vai pro lado dele porque ele é menos durão”. O que não deixa de ser verdade! E essa é só mais uma relação que é explorada na produção, além do relacionamento entre irmãos, entre amigos, entre namorados ou primeiros amores… tudo em torno do sonho da geniosa Lady Bird.
Fugindo daquele lugar-comum adolescente, que eu já fiz questão de demonstrar aqui que não existe, o longa é leve e bem-humorado. A paleta de cores da fotografia não foge muito do amarelado, mas a trilha é bem colorida. Como o filme se passa no início dos anos 2000, “Ironic” de Alanis Morissette e “Cry me a River” de Justin Timberlake aparecem e dão aquele ar saudoso. E você se vê na tela. Aquela jovem pode ser você: ela não consegue ir bem em sala de aula, e aquilo é péssimo para a realização de seus projetos. Com notas tão baixas, ela não não tem muitas chances de entrar em nenhuma boa faculdade, e o pior: não vai sair de seu mundinho nunca! E ela ainda percebe que isso tudo nunca vai acabar quando seu pai solta: “Dinheiro é o boletim da vida”. Ou seja, é você tentando crescer, buscando seu espaço, procurando amadurecer, se esforçando pra vencer.
O que nunca devemos é abaixar a cabeça. Temos que ser como a forte Lady Bird: insistir, prosseguir, persistir, não desistir… É nos movimentando que as asas ficam mais flexíveis. É nos esforçando que o impulso fica maior. É só assim que conseguiremos voar, como um pássaro livre, tendo o céu intenso e espaçoso para triunfar.
Até semana que vem!
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