Quem nunca se viu lendo um post na internet que mostra algum estudo ‘novinho’, ‘ótimo’ ou ‘publicado recentemente’ que comprova algo? Acho que diariamente a gente encontra esses textos por aí, e quando você coloca um estudo no meio, dá aquela cara de verdade absoluta né?
Mas de verdade a maioria só tem a cara. É tipo gente cínica, sabem como?
Me arrisco a dizer que grande parte dos textos que os ‘estudos comprovam’ estão escritos de uma maneira mais sexy, para que você leia e compre aquela idéia. Nós sempre estamos na expectativa de uma solução. Queremos sempre respostas para uma simples pergunta: o que devo comer? Dieta vegetariana ou paleolítica? Manteiga ou Azeite? Margarina ou Óleo? Morangos ou Jabuticabas?
Enquanto a gente espera essas respostas, profissionais/veículos de comunicação e indústria querem vender mais: fazem isso respondendo ou fomentando esse tipo de rivalidade; enquanto os pesquisadores querem produzir cada vez mais material. Essa é a reunião perfeita entre três grupos loucos por informação ‘fresquinha’.
Es aí começam os problemas: alguns cientistas são ‘financiados’ por grandes indústrias (os casos do Gatorade e estudos sobre hidratação são bem conhecidos), há o p-hacking, que nada mais é que a manipulação de dados para que eles pareçam estatisticamente significantes (quando na verdade não são), e outros detalhes que tem que ser levados a sério na hora de usar uma pesquisa para usar a frase ‘estudos comprovam’.
Mas o que mais acontece por aí é o jeito de interpretar o estudo: grande parte é feita com certo interesse para vender uma idéia – e aí vem uma chuuuuuuva de posts com informações super ‘atraentes’ na internet, jornais e televisão.
Acho que no meio de toda confusão que a nutrição vive – existe ou não uma dieta ideal? – muitas (MUITAS!) pessoas estão divulgando estudos da maneira que é mais conveniente. Por exemplo: estudos observacionais estão sendo usados para estabelecer causa e efeito, sendo que esse tipo de pesquisa é utilizado para levantar hipóteses.
Ainda não ficou claro? Vejam a figura: ela mostra de maneira simplificada como uma pesquisa que relaciona consumo e seres humanos geralmente é feita.
Geralmente observamos um fenômeno e pensamos: ‘deve ter algo aí!!!’. E então estudamos se existe ou não essa relação. Mas já afirmar que ‘estudos comprovam que sushi emagrece’ sem ensaios clínicos bem feitos é conversa pros tarados por dieta ficarem satisfeitos. Os estudos observacionais são importantes para gerar hipóteses, e a partir delas podemos estudar se as hipóteses são fatos – e se são, como ocorrem, a quais tipos de pessoas se aplicam, etc.
Ainda tem uma observação: falando de nutrição, muitos estudos citados pelos alimentadores de tendência são feitos com questionários alimentares – e esse instrumento, apesar de muito utilizado, é muito questionado. Existe um texto ótimo falando disso aqui, vale a leitura.
E como a gente pode fazer pra se livrar desse tipo de informação?
O primeiro passo é duvidar de ‘estudos comprovam que…’: Leiam, pesquisem, perguntem. Sejam chatos. Tem muita gente que sabe avaliar super bem um estudo, outros sabem mais ou menos, alguns não sabem nada e uns até sabem mas usam da maneira que é interessante.
Pesquisem com imparcialidade: Muita gente usa a ciência de maneira conveniente, para confirmar o que a gente quer que seja verdade. Quem segue um tipo determinado de dieta sempre vai achar um estudo que comprova o que parece ser bom para si: o paleo, o vegetariano, o onívoro, o dunkaniano, o vegano, etc…
Não percam tempo com pesquisas que geram conflito ‘alimento do bem x alimento do mal’. Eles são usados com conveniência e geralmente por quem quer defender um determinado tipo de dieta ou de alimentação, pra vender um método ‘infalível’ ou um produto ‘maraaaaa’.
E usem o bom senso! Vocês acham mesmo que se houvesse algum alimento tão milagroso assim, ainda teríamos uma humanidade com altíssimos índices de sobrepeso e obesidade?
A ciência é IMPRESCINDÍVEL, pesquisas boas ou ruins alimentam discussões interessantíssimas e quem entra nesse mundo curioso começa a ver as informações com muito mais ceticismo. Os profissionais estão aí para isso, pra explicar com imparcialidade e cuidado todas as possíveis comprovações!
Assim como a dieta, provavelmente nunca vai existir um estudo 100% perfeito e ideal. Se você ainda quer ler mais, esse post do ciência informa é excelente. E pesquisar com quem sabe também é muito bom!
Então minha gente, muito cuidado com as ‘comprovações científicas’. As pesquisas são importantíssimas, mas aparentemente tem sido colocadas no patamar de #dica #de #blogueira. E a gente sabe que o buraco é muito mais embaixo…
Até a próxima!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Revista britânica publicou… Cientistas americanos descobriram… Estudos mostram… Assim começam as mentiras ou “pós-verdades”. Uma vez, eu tive a curiosidade de procurar por um estudo indicado por um site. Advinha? Não o encontrei. Parece que esses tais estudos não existem. Ou se existem, a maioria deles precisam de ser confirmados pela comunidade científica.
No podcast Tribo Forte sempre falam isso. Inclusive, indico muito este podcast, eles dão dicas de alimentação baseados em estudos com o maior nível de evidência, ou seja, no mínimo deve ser um ensaio clínico randomizado, e não estudos observacionais.
No podcast Tribo Forte sempre falam isso. Inclusive, indico muito este podcast, eles dão dicas de alimentação baseados em estudos com o maior nível de evidência, ou seja, no mínimo deve ser um ensaio clínico randomizado, e não estudos observacionais.
Revista britânica publicou… Cientistas americanos descobriram… Estudos mostram… Assim começam as mentiras ou “pós-verdades”. Uma vez, eu tive a curiosidade de procurar por um estudo indicado por um site. Advinha? Não o encontrei. Parece que esses tais estudos não existem. Ou se existem, a maioria deles precisam de ser confirmados pela comunidade científica.