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Estudos Comprovam?

  • por em 15 de maio de 2017

Quem nunca se viu lendo um post na internet que mostra algum estudo ‘novinho’, ‘ótimo’ ou ‘publicado recentemente’ que comprova algo? Acho que diariamente a gente encontra esses textos por aí, e quando você coloca um estudo no meio, dá aquela cara de verdade absoluta né?

Mas de verdade a maioria só tem a cara. É tipo gente cínica, sabem como?

Me arrisco a dizer que grande parte dos textos que os ‘estudos comprovam’  estão escritos de uma maneira mais sexy, para que você leia e compre aquela idéia. Nós sempre estamos na expectativa de uma solução. Queremos sempre respostas para uma simples pergunta: o que devo comer? Dieta vegetariana ou paleolítica? Manteiga ou Azeite? Margarina ou Óleo? Morangos ou Jabuticabas?

Enquanto a gente espera essas respostas, profissionais/veículos de comunicação e indústria querem vender mais: fazem isso respondendo ou fomentando esse tipo de rivalidade; enquanto os pesquisadores querem produzir cada vez mais material. Essa é a reunião perfeita entre três grupos loucos por informação ‘fresquinha’.

Es aí começam os problemas: alguns cientistas são ‘financiados’ por grandes indústrias (os casos do Gatorade e estudos sobre hidratação são bem conhecidos),  há o p-hacking, que nada mais é que a manipulação de dados para que eles pareçam estatisticamente significantes (quando na verdade não são), e outros detalhes que tem que ser levados a sério na hora de usar uma pesquisa para usar a frase ‘estudos comprovam’.

Mas o que mais acontece por aí é o jeito de interpretar o estudo: grande parte é feita com certo interesse para vender uma idéia – e aí vem uma chuuuuuuva de posts com informações super ‘atraentes’ na internet, jornais e televisão.

Acho que no meio de toda confusão que a nutrição vive – existe ou não uma dieta ideal? – muitas (MUITAS!) pessoas estão divulgando estudos da maneira que é mais conveniente. Por exemplo: estudos observacionais estão sendo usados para estabelecer causa e efeito, sendo que esse tipo de pesquisa é utilizado para levantar hipóteses.

Ainda não ficou claro? Vejam a figura: ela mostra de maneira simplificada como uma pesquisa que relaciona consumo e seres humanos geralmente é feita.

RESUMOCIENCIA

Geralmente observamos um fenômeno e pensamos: ‘deve ter algo aí!!!’. E então estudamos se existe ou não essa relação. Mas já afirmar que ‘estudos comprovam que sushi emagrece’ sem ensaios clínicos bem feitos é conversa pros tarados por dieta ficarem satisfeitos. Os estudos observacionais são importantes para gerar hipóteses,  e a partir delas podemos estudar se as hipóteses são fatos – e se são, como ocorrem, a quais tipos de pessoas se aplicam, etc.

Ainda tem uma observação: falando de nutrição, muitos estudos citados pelos alimentadores de tendência são feitos com questionários alimentares – e esse instrumento, apesar de muito utilizado, é muito questionado. Existe um texto ótimo falando disso aqui, vale a leitura.

E como a gente pode fazer pra se livrar desse tipo de informação?

O primeiro passo é duvidar de ‘estudos comprovam que…’: Leiam, pesquisem, perguntem. Sejam chatos. Tem muita gente que sabe avaliar super bem um estudo, outros sabem mais ou menos, alguns não sabem nada e uns até sabem mas usam da maneira que é interessante.

Pesquisem com imparcialidade: Muita gente usa a ciência de maneira conveniente, para confirmar o que a gente quer que seja verdade. Quem segue um tipo determinado de dieta sempre vai achar um estudo que comprova o que parece ser bom para si: o paleo, o vegetariano, o onívoro, o dunkaniano, o vegano, etc…

Não percam tempo com pesquisas que geram conflito ‘alimento do bem x alimento do mal’. Eles são usados com conveniência e geralmente por quem quer defender um determinado tipo de dieta ou de alimentação, pra vender um método ‘infalível’ ou um produto ‘maraaaaa’.

E usem o bom senso! Vocês acham mesmo que se houvesse algum alimento tão milagroso assim, ainda teríamos uma humanidade com altíssimos índices de sobrepeso e obesidade?

pequise

A ciência é IMPRESCINDÍVEL, pesquisas boas ou ruins alimentam discussões interessantíssimas e quem entra nesse mundo curioso começa a ver as informações com muito mais ceticismo. Os profissionais estão aí para isso, pra explicar com imparcialidade e cuidado todas as possíveis comprovações!

Assim como a dieta, provavelmente nunca vai existir um estudo 100% perfeito e ideal.  Se você ainda quer ler mais, esse post do ciência informa é excelente. E pesquisar com quem sabe também é muito bom!

Então minha gente, muito cuidado com as ‘comprovações científicas’. As pesquisas são importantíssimas, mas aparentemente tem sido colocadas no patamar de #dica #de #blogueira. E a gente sabe que o buraco é muito mais embaixo…

Até a próxima!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Renato

Revista britânica publicou… Cientistas americanos descobriram… Estudos mostram… Assim começam as mentiras ou “pós-verdades”. Uma vez, eu tive a curiosidade de procurar por um estudo indicado por um site. Advinha? Não o encontrei. Parece que esses tais estudos não existem. Ou se existem, a maioria deles precisam de ser confirmados pela comunidade científica.

Rilker

No podcast Tribo Forte sempre falam isso. Inclusive, indico muito este podcast, eles dão dicas de alimentação baseados em estudos com o maior nível de evidência, ou seja, no mínimo deve ser um ensaio clínico randomizado, e não estudos observacionais.

Rilker

No podcast Tribo Forte sempre falam isso. Inclusive, indico muito este podcast, eles dão dicas de alimentação baseados em estudos com o maior nível de evidência, ou seja, no mínimo deve ser um ensaio clínico randomizado, e não estudos observacionais.

Renato

Revista britânica publicou… Cientistas americanos descobriram… Estudos mostram… Assim começam as mentiras ou “pós-verdades”. Uma vez, eu tive a curiosidade de procurar por um estudo indicado por um site. Advinha? Não o encontrei. Parece que esses tais estudos não existem. Ou se existem, a maioria deles precisam de ser confirmados pela comunidade científica.