“Sem Limites”
Assisti ao filme “Sem Limites”, com Bradley Cooper como protagonista, de supetão e de bobeira na Netflix. É bom, de vez em quando, pegar um filme assim, do qual nunca se ouviu falar ou nem se sabe nada sobre o roteiro, para se surpreender, ou não, com a história.
No roteiro, Edward Morra (Cooper) vive um escritor fracassado, que já perdeu a noiva e está quase perdendo o contrato com uma editora de Nova York pela falta de inspiração. Num certo dia, ele reencontra seu ex-cunhado na rua, e o cara passa para ele uma droga nova, superpotente, capaz de fazer o cérebro trabalhar com o potencial total, e não só com os 20% habituais do ser humano. Ele reluta inicialmente, mas se entrega à droga NZT e se transforma em um gênio: escreve seu livro em poucas horas, consegue o emprego dos sonhos, faz cálculos que nunca havia feito na vida e, por isso, ganha rapidamente carreira e dinheiro.
Mas, se existisse um remedinho desse na Terra, você já esperaria por um efeito colateral daqueles mais cabulosos, não é mesmo?! Dito e feito. Pelo poder massacrador, o comprimidinho é altamente viciante e, além da necessidade de estar sob a onda o tempo todo para “render” 100%, o sujeito viciado vai acabar sofrendo uma deterioração de seu corpo com o tempo, algo como a morte galopante ao seu encontro.
E, se você tivesse caído nessa cilada, o que faria? O personagem de Cooper foi extremamente egoísta. Após seu ex-cunhado ter sido assassinado, pegou todas as pílulas para si e, desde então, se preocupou apenas com o próprio crescimento – a partir daí, o filme se desenrola, dando início a uma caça sem fim pelo agora dono de todas as pastilhas. Mas, sendo insistente e voltando à questão do início do parágrafo, você teria a mesma atitude egocêntrica de Edward ou usaria essa magnitude em forma de comprimido para ajudar em pesquisas como, por exemplo, pela cura do câncer?
É muito fácil falar, “sentar em cima do rabinho” e querer salvar o mundo como que num passe de mágica, mas, se as pessoas parassem de olhar para seus respectivos umbigos, esse mesmo mundo seria salvo sem nenhum esforço, sem nenhuma droga superpotente, apenas com promoções diárias de sorrisos ou sorteios gratuitos de gentilezas. Se você, além de pensar em si mesmo, claro, fizesse algo a mais pelo outro de forma natural no seu dia a dia, duvido de verdade que, ao final desses longos dias, você não teria um sentimento interior como o daquele que já experimentou algum tipo de droga. Você é independente, pode usar esse tal sentimento de liberdade e euforia para criar, para inovar, para ser feliz contigo e com as pessoas que o rodeiam. Não possuímos essa droga revolucionária do futuro, mas temos, sim, o poder de mudar o mundo. Tá bom, não é a cura do câncer, mas pense como o mínimo que seja já é o bastante para melhorar sua convivência.
Certo dia, andando pelas ruas de Barbacena, no interior de Minas, reparei em mãe e filha que vinham felizes pela calçada curando o calor de outono com picolés. A pequena de uns 4 aninhos diz para a mãe: “Vamos tirar esse papel do picolé, mamãe?”. A mãe apenas acena que sim com a cabeça e joga, com firmeza e cara de pau, a embalagem na calçada. A filha olha aquela cena, aprende que aquilo é o certo e faz o mesmo. A minha vontade foi de ir até elas, pegar o lixo e dizer à mãe: “Ei, madame, deixou cair isso aqui!”. Mas não o fiz. Apenas peguei os papéis no chão e joguei na lixeira, que estava bem perto. Não se vende educação em cápsulas e não dá para injetar boas maneiras à força com seringas por aí. São essas pessoas viciadas que devem fazer reabilitação. O mundo não precisa desse tipo de droga.
Até semana que vem!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.