Grupo Corpo no Palácio das Artes - BH DICAS
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Grupo Corpo no Palácio das Artes

  • por em 29 de agosto de 2022

Grupo Corpo faz a festa para dois compositores da mais alta esfera da MPB que completaram 80 anos em 2022: Gilberto Gil e Caetano Veloso. 

Foto: José Luiz Pederneiras

O espetáculo reúne dois balés com música especialmente composta para a companhia pelos geniais baianos:  Onqotô, de 2005, trilha de Caetano em parceria com José Miguel Wisnik; e Gil, de 2019, agora inteiramente refeito e rebatizado de Gil Refazendo. O programa chega a Belo Horizonte dia 30 de agosto e permanece em cartaz até dia 4 de setembro

Em 1942, nasciam na Bahia dois dos maiores nomes da música brasileira – Gilberto Gil, em 26 de junho, na capital do estado; Caetano Veloso, dia 7 de agosto, na pequena Santo Amaro da Purificação. E em 2022, quando ambos completam 80 anos, serão celebrados pelo Grupo Corpo na temporada brasileira do segundo semestre.  

Foto: José Luiz Pederneiras

Refazer

A renovação do balé de 2019 já estava nos planos do grupo. “Não ficamos satisfeitos com o resultado e decidimos voltar à estaca zero a partir da trilha de Gilberto Gil”, aponta o diretor artístico Paulo Pederneiras. “É, na verdade, uma estreia, um novo espetáculo”. Além da oportunidade de homenagear Gil nos 80 anos, a decisão foi reforçada pela transformação radical que o mundo viveu nesse período – e o Brasil em particular. Há uma única exceção na renovação da coreografia: o samba da Mari – solo da bailarina Mariana do Rosário na releitura de Aquele Abraço

A cenografia se apoia numa imagem de fundo em milimétrico movimento. “São girassóis que lentamente voltam à vida”, conta Paulo. “Gravamos por 15 dias ininterruptos a transformação das flores vivas em plantas murchas, encerradas num local fechado; na projeção do palco, invertemos o processo. O público vai acompanhar, a princípio sem perceber e no final de maneira explícita, a vida que retorna”. Vestidos de linho em tom cru – moças de camisa sobre uma malha de duas peças, rapazes de calça e camisa de corte casual – os bailarinos dançam sob a luz “branca e simples”, como diz Paulo Pederneiras.

A música de Gil

Aquele Abraço, Realce, Tempo Rei, Andar com Fé, Toda Menina Baiana, Sítio do Picapau Amarelo, Raça Humana: na trilha de 38 minutos, surgem frases e temas de canções de Gilberto Gil – retrabalhadas, mas perfeitamente reconhecíveis nas suas variações. O arco traz quatro temáticas, ou quatro ambientes musicais, na definição do compositor: um choro instrumental; uma abordagem camerística (com inspiração“ em Brahms ou Satie”, aponta ele); um terceiro momento de liberdade improvisadora e, finalmente, uma construção abstrata baseada em figuras geométricas. “Círculo, triângulo, retângulo, pentágono, a volta ao círculo e finalmente a dissolução numa linha reta”, explica Gilberto Gil.

Nos arranjos, se alternam os tambores ancestrais e as distorções do aparato eletrônico; o afoxé e o naipe de sopros de pegada jazzística; a modinha e o berimbau. As citações bailam entre si, entrecruzando-se e dialogando enquanto o arco da trilha avança. “O fechamento da trilha traz ainda um poema concreto recitado por Gil, onde as cinco letras de CORPO se desdobram em CRAVO, CEDRO, FLORA, PALCO, PERNA, BRAÇO, PEDRA. “Ouvindo o resultado final, percebo que há muitos elementos da minha dimensão rítmica mesmo, elementos da Bahia, da música afro-baiana”, conclui o compositor.

Banda: Gilberto Gil (violão, voz) / Bem Gil (guitarra) / Danilo Andrade (teclado, piano elétrico) / Domenico Lancelotti (MPC, bateria, percussão) / Thiago Queiroz, Diogo Gomes (sopros) / Bruno di Lullo (baixo) / José Gil (percussão) / Thomas Harres (balafon)

Foto: José Luiz Pederneiras

A volta de Onqotô: Big-Bang e Fla-flu, Gregório e Camões

O balé criado para a celebração de 30 anos do Grupo Corpo, em 2005, se atira para o universo: olha para o Big-Bang, a gênese cósmica. O tema proposto por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik explora a sensação de pequenez do ser humano na imensidão do tempo e do espaço – e, com bom-humor, para o Big Mac e para a provocadora frase do dramaturgo Nelson Rodrigues, fanático tricolor: “O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada”.

Batizado de Onqotô – corruptela de uma das indagações existenciais que permeiam a criação da trilha e do espetáculo – “Onde que eu estou?”, “Para onde que eu vou?”, “Quem que eu sou?”; ou, em delicioso mineirês, “Onqotô?”, “Pronqovô”, “Qemqosô?”.

Com 42 minutos de duração, a trilha, produzida por Alê Siqueira, estabelece uma sucessão de diálogos musicais e poéticos em torno das “cenas de origem” eleitas por seus criadores (Big-Bang e Fla-Flu) somadas ao sentimento de desamparo inerente à condição humana.

Onqotô foi um presente que Caetano e Wisnik nos deram”, diz Rodrigo Pederneiras. “A trilha nos deu chance de criar sobre momentos fenomenais, como Mortal loucura, com citações muito fortes, Gregório de Matos, Camões, Carlos Drummond de Andrade”. Com muitas cenas de chão, o balé contrapõe vertical e horizontal, caos e ordenação, força e suavidade. São nove temas – cinco deles assinados pela dupla e os outros quatro, canções criadas separadamente, duas das quais parcerias com poetas seminais da língua portuguesa: Caetano Veloso musicou meia estrofe de Os Lusíadas, de Luís de Camões; José Miguel Wisnik, um soneto barroco do século XVII, de autoria do poeta baiano Gregório de Matos. Wisnik interpreta Madre Deus, de Caetano, especialmente composta; Caetano faz uma releitura de Pesar do Mundo, de Wisnik e Paulo das Neves, de 1993.

Gravada nos estúdios de Carlinhos Brown no Candeal, a trilha mistura a percussão inconfundível com múltiplas vozes sobrepostas e intervenções de piano, guitarra elétrica, contrabaixo, acordeom, flautas e cordas. O rítmico e o timbrístico se alterna com o lirismo das canções, com participações do grupo Hip-Hop Roots, do Candeal, e da voz de Greice.

A cenografia de Paulo Pederneiras abole as coxias e apresenta um espaço côncavo formado por uma cortina de longas tiras de borracha cor de grafite que permite que as entradas e saídas de cena dos bailarinos se processem por qualquer ponto do palco. Os refletores são posicionados na estrutura circular do cenário, como num estádio de futebol.

Os figurinos de Freusa Zechmeister, malhas inteiriças justas, são, a princípio, monocromáticas e escuras, provocando um efeito de fusão; aos poucos, os grupos de bailarinos vão se diferenciando em detalhes e combinações, como as malhas vermelhas com meiões e joelheiras dos times no Fla-Flu primordial. 

O patrocínio premium é do Instituto Cultural Vale; patrocínio master da ArcelorMittal; patrocínio, Vivo, CCR, Cemig e Instituto Unimed-BH.

Não perde!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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