“Estrelas Além do Tempo”
Há muitos anos, Kevin Costner vem demonstrando ser um artista engajado na luta contra o preconceito racial, usando o artifício do cinema para difundir seus ideais. Ele trata dessa questão em “Preto e Branco”, filme no qual investiu seu próprio dinheiro em 2014, e agora tem papel importante ao participar de “Estrelas Além do Tempo”, indicado em três categorias do Oscar 2017, incluindo a de melhor filme. Mas ele não é o foco desta belíssima produção do diretor Theodore Melfi. Baseado no livro “Hidden Figures”, de Margot Lee Shetterly, o filme narra esse tão temido e abominado preconceito na época da corrida espacial: em plena Guerra Fria, em que Estados Unidos e União Soviética disputavam a soberania no espaço, três mulheres afro-descentes, Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), grandes amigas e funcionárias da Nasa, tentavam superar o machismo e o preconceito racial para ganhar o verdadeiro reconhecimento dentro da instituição. Costner faz o chefão da Nasa, uma junção dos três chefes delas na vida real.
Com ótimas atuações (tanto que venceu na categoria melhor elenco na 23ª edição do Screen Actors Guild Awards, tradicional premiação concedida pelo Sindicato dos Atores dos Estados Unidos e focada nas performances individuais e coletivas no cinema e na televisão) e uma trilha sonora assinada por Pharrel Williams, do qual sou fã, o longa é daqueles filmes ótimos que, dentre tantos lançamentos de indicados ao Oscar nesta época do ano, você não pode deixar de ver.
A grande questão que eu, historicamente, não sabia até então é que uma equipe de cientistas da Nasa – formada exclusivamente por mulheres negras – provou ser o elemento crucial na vitória dos Estados Unidos, liderando uma das maiores operações tecnológicas da história do país e fazendo com que suas integrantes se tornassem verdadeiras heroínas da nação. Isso é fantástico! E também muito atual…
Tudo bem que, no filme que se passa na década de 60, aconteciam situações-limite, como o olhar frequente de discriminação e recriminação e as impensáveis divisões entre brancos e negros – banheiros, bebedouros, lugares nos ônibus, salas de aula e de trabalho etc., tudo era segregado. Mas, em entrevista, Costner dá um depoimento que nos faz pensar, trazendo essa reflexão para os dias atuais. “Não sei se ‘Estrelas Além do Tempo’ é mais importante agora do que em outros tempos. Poderia ter sido igualmente importante há dez anos, porque é um reflexo de nossa sociedade […] As coisas que odiamos, que nos envergonham e que nos entristecem na trama, nós as ultrapassamos?”, questiona.
É de se estarrecer que isso tudo acontecia no passado, com tal vigor que ninguém fazia nada, apenas aceitava. Ao assistir às cenas, a raiva por tudo aquilo é tanta que dá vontade de chorar. Mas isso já ficou pra trás. O pior mesmo é ver cenas de nosso cotidiano com o mínimo dessa influência, um resquício segregador que pode ser nada para uns, mas uma avalanche desmoronadora para tantos outros.
O fato é que, naquela época, o respeito só apareceu após essas três corajosas mulheres – uma matemática brilhante, uma engenheira e dona de duas graduações em exatas e a primeira supervisora mulher e negra da história da Nasa – se sobressaírem com determinação, ousadia e inteligência. Foi preciso elas serem superiores, supremas, na maior eminência do brilho, para alcançarem o que parece simples: igualdade.
Em certo momento do filme, uma delas diz: “Estamos vivendo o impossível”. Pra mim, impossível é imaginar que esse severo cenário já existiu, degradante como um rolo compressor. Impossível é aceitar que, ainda hoje, a cor da pele seja motivo de aversão, prejulgamento e dor. Deveríamos ser como Kevin Costner: neste momento, continua à procura daquela última fagulha de segregação. Ela precisa se decompor.
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