“O Palhaço”
Eu me lembro que, quando o filme “O Palhaço”, escrito, produzido, dirigido e estrelado por Selton Mello, estreou, em 2011, passei umas quatro semanas tentando arrumar um jeito de vê-lo. Demorei tanto que, na época, ele saiu de cartaz, e eu tive que ir a uma locadora que ainda insistia em existir perto de casa… mas não tinha. Tentei baixar pela internet, mas, como sou totalmente desorganizado tecnologicamente, não consegui. Daí, fui a várias banquinhas dessas “tabajaras”, até conseguir uma cópia numa qualidade boa. Acho que, pela grande expectativa que eu alimentava para ver o filme que foi líder em prêmios nacionais naquele ano e tinha grandes chances de representar o Brasil na disputa de melhor filme estrangeiro do Oscar 2012, não fiquei tão impressionado assim. Mas isso não significa que não tenha tirado uma boa lição desse longa, tão bem produzido e bem dirigido e que acaba tocando as pessoas de alguma forma – e que está disponível no Telecine Play e no Now.
É claro que ele vai tocar mais a classe artística ou até mesmo aqueles que se envolvem mais com a cultura. Mas a mensagem também chega até você. Isso porque o filme conta a história do palhaço Benjamim (Selton Mello) e de seu pai, Valdemar (Paulo José), que formam a divertida e entrosada dupla Pangaré e Puro-Sangue, do circo Esperança. Em meio a viagens pelo interior de Minas, Benjamim passa por uma crise existencial pela qual, acredito eu, qualquer artista – seja ele ator, cantor, dançarino, músico, humorista ou palhaço – deva passar: “Quem eu sou verdadeiramente? Sigo em frente porque a maré está me levando nessa jornada ou busco uma nova plateia? Eu sou artista ou eu seria mais feliz sendo um vendedor de ventiladores em uma loja de eletrodomésticos?”.
É aí que está o grande lance: em cenas lotadas de simbolismo e significados, dignas de aplauso pela fotografia mágica e pela trilha que completa o ambiente circense e interiorano, o pai lança a mensagem para o filho: “Na vida, a gente tem que fazer o que a gente sabe fazer. O gato bebe leite, o rato come queijo… E eu sou palhaço”. De uma maneira bem particular, eu, Luiz, por mais que tente fugir do jornalismo – por estar estressado com um dia ruim, triste por ter levado uma bronca do chefe ou cansado por ter trabalhado num fim de semana inteiro no plantão na redação –, não tenho lugar para ir. Eu me encontrei entre as letras, cheguei à maturidade profissional entre os parágrafos, e poucos são os prazeres existentes que me fazem tão feliz quanto escrever e ser lido.
É assim que vários Benjamins se sentem, sejam eles de qualquer área profissional imaginável. Nem anos de análise tiram a essência que cada um tem guardada em sua caixinha do lado esquerdo do peito. O palhaço de Selton Mello questiona essa essência, assim como muitos de nós, artistas ou não, mas segue o caminho do amor para se encontrar com o humor. Tirando da trilha do filme uma joia de Nelson Ned, “tudo passa, tudo passará / Nada fica, nada ficará / Só se encontra a felicidade / quando se entrega o coração”. E é assim que Selton Mello toca o seu coração e o atinge em sua determinada função. O meu foi bem de leve. Imagine se tivesse sido com força…
Até e Bom filme!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.