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Um brilho que vem da França

“Piaf – Um Hino ao Amor”

Todo mundo tem um ídolo. Numa ótica mais global, todo país tem um ídolo pra guardar e lembrar, principalmente na música, em que há a maior representação cultural, histórica e sensível na vida das pessoas.

Na Inglaterra, os Beatles fizeram história. Na Jamaica, Bob Marley fez sorrir. Na Argentina, Evita fez chorar. Nos Estados Unidos, Elvis não morreu. Na França, a voz de Édith Piaf já havia tocado os meus ouvidos, mas eu não sabia nada a respeito de sua história. Até que, outro dia, assisti em casa pela Netflix ao incrível “Piaf – Um Hino ao Amor” – filme de 2007, vencedor de dois Oscars, incluindo o de Melhor Atriz para Marion Cotillard – e descobri por que os franceses a idolatram tanto.

E, no caso de Piaf, não basta ser apenas uma inesquecível estrela da música, dona de uma voz estupenda. Para chegar aonde chegou e mostrar que realmente suou para ser grande, a musa francesa teve uma história tão difícil que, às vezes, é até difícil de acreditar. Para e pensa… desde pequenininha, ela só enfrentou situações pesadas, uma vida inteira de perdas: foi abandonada pela mãe e tinha o pai alcoólatra, por isso foi taxada de ser filha de ninguém; foi criada dentro de um bordel, ficou cega por quatro anos e, ao crescer um pouquinho, cantou na miséria das ruas pra tirar seu sustento; perdeu grandes amigos, brigou com a vida, mendigou seu único amor, uma morte lenta e rápida ao mesmo tempo. Uma vida só de amargura, tristeza e desalento.

Mesmo com esse resumão do filme, posso te dizer que você realmente não viu nada. “Piaf vai tocar tanto seu coração que você não vai entender como aquela frágil menina chegou tão longe, tamanho o seu martírio. Na minha humilde interpretação (e também é o que deixa transparecer no roteiro), é que ela, no fundo de sua alma e de seu coração, sabia que era um ser iluminado, uma mulher que iria passar por todas aquelas atrocidades na vida, mas que iria vencer! Justamente por isso tornou-se a carrancuda e séria, porém aclamada e elogiada, cantora símbolo dos anos dourados franceses.

Óbvio que nada disso seria categoricamente contado se não fosse por meio da exímia atuação de Marion Cotillard. Em uma das maiores e mais sensíveis atuações biográficas da história do cinema, poucas vezes uma caracterização soou tão perfeita. Não por acaso, a atriz ganhou a maioria dos prêmios que disputou na época. Não posso afirmar que, por causa da áspera bagagem da verdadeira Piaf, tudo foi bem mais fácil para a interpretação da atriz. Seria uma injúria contra tal afortunado talento. Mas uma personagem real assim, que consegue retirar forças de suas lágrimas, erguer-se por meio de seus tombos ou transformar suas ausências em uma voz triunfante, além de nos mostrar que na vida temos que acreditar em nós mesmos, precisava ser interpretada por uma artista tão valiosa quanto. Ou seja, quem ganha somos nós, espectadores: a certeza de um show particular de uma cantora única nas mãos de uma atriz de astúcia e discernimento arrebatadores.

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