A minha pergunta enquanto nutricionista sempre foi: porque as pessoas continuam fazendo dieta? A resposta ‘porque elas querem um milagre’ nunca me convenceu. Afinal, ninguém reclama quando algo ‘milagroso’ acontece. Até eu que sou mais boba quero um milagre, e nem por isso vou me submeter a uma restrição sacrificante. Ou seja, não é só esse o motivo.
Passei um bom tempo tentando achar essa resposta em dados científicos, em livros especializados, conversando com profissionais que trabalham com o comportamento até que um dia, durante uma consulta, a resposta veio a tona. A pessoa me disse: ‘Fazer dieta é fácil: basta cortar o que não pode’
Dói no coração escutar isso, mas é a verdade nua e crua: É mais fácil porque você não precisa pensar!
Quando você se propõe a fazer a dieta da proteína, basta cortar os carboidratos. Na dieta do glúten, basta cortar o glúten. Da lactose, corta a lactose, e por aí vai. E isso não te obriga a pensar, não obriga a fazer escolhas. É simples, pouco esforço.
Pensar dá um trabalho danado. Fazer escolhas é também difícil. Quando você faz uma escolha, não só está assumindo o risco de um erro, como também precisa avaliar com cuidado vários detalhes que vão além da escolha propriamente dita, principalmente as consequências dela. Ou seja: não é só fazer uma escolha, tem que colocar o cérebro pra funcionar.
Aprender sobre o que é bom pra gente é difícil, ainda mais no meio de tantas informações. Porém, mesmo com a dificuldade de fazer escolhas, só aprendemos dessa maneira: pensando muito.
Apenas afirmar ‘não posso isso’ e ‘não posso aquilo’ é muito mais fácil do que ter que ir sempre nas consultas com a nutricionista, ter que pensar antes de servir o prato no self-service, não se sentir culpado quando eventualmente sucumbir aquele pedaço de bolo de chocolate, e além de decidir, justificar para si mesmo aquela escolha.
E sabem o que é mais incrível? Dieta funciona. Isso mesmo que eu estou dizendo, dieta funciona. Tirar tudo que tem glúten, por exemplo, faz com que você (inicialmente) deixe de comer vários alimentos, e obviamente vai reduzir seu consumo calórico – principalmente se você é daquelas pessoas que come basicamente um montão de industrializados e ‘junk food’.
Só que esse resultado não dura muito. Primeiro você começa a aumentar as quantidades do que pode.
Depois você cansa de repetir que ‘não pode’. Você quer poder, você quer comer… e daí, quando você começa a mentir pra si mesma, é o início da frustração. Sabe aquela história ‘sou péssima(o), não consigo nem seguir uma dieta!’?.
Pois é. Mas quem é péssima(o) não é você, é a danada da dieta.
Não que o pão faça mal – vocês sabem que não faz. Mas comer 4 pãezinhos não é o mais indicado… E tudo isso porque ela não podia comer algo que nem fazia questão. Estão vendo a gravidade?
A dieta também é fácil porque tem pouca variedade. Você só pode comer isso e aquilo. Não precisa ficar inventando muitas variações e a maioria te faz comer um monte de industrializados. Seria maravilhoso se as pessoas que tirassem o ‘glúten’ substituíssem o monte de comida industrializada ‘com glúten’ por mais legumes, verduras e grãos integrais. Mas a gente sabe que não é isso que acontece. A maioria tira o glúten e se enchem de ‘produtos sem glúten’ – na sua maioria também industrializados. Até porque é bonito, atual e fashion falar que você comeu um ‘cookie sem glúten’, néam?
Outro motivo pelos quais dietas são fáceis: você consegue sempre uma legião de pessoas que concordam que a dieta funciona, ou que conhecem alguém que fez e emagreceu, ou até textos e informações que deixam claro que essa dieta dá super certo. Quem sou eu pra dizer que ninguém emagrece com dieta, eu acho é que todo mundo emagrece sim. Mas volto a afirmar que em 99% dos casos as dietas restritivas não são sustentáveis. Quando você para de repetir o ‘não posso’ e começa a necessitar de maneira ilimitada, os quilos reaparecem.
Dietas são fáceis, sim. Mas eu continuo acreditando na boa e velha educação/reeducação alimentar. Você deve saber como e o que comer, e não apenas ficar sacudindo a cabeça em negativa para cada alimento ‘proibido’ que te oferecem.
Eu gosto muito de repetir uma frase que é: esforço é diferente de sacrifício. A educação/reeducação alimentar necessita esforço. As vezes MUITO esforço. É como educar uma criança: você nunca sabe se está certo ou se está errado, você segue o que imagina ser o melhor e confia naquilo – se não tiver acertado, tenta de novo até deixar no jeito que você quer. Conta com sua intuição, com a ajuda de pessoas que entendem daquilo… o mesmo se aplica na alimentação.
Na dieta você tem que fazer esforço e sacrifício. Sacrifício para negar tudo o que você gosta e poderia estar comendo (talvez em menor quantidade, claro) e esforço para não se sentir uma droga de pessoa quando cai na tentação.
Na minha concepção o pior de fazer uma dieta é assumir uma escolha sabidamente equivocada, é vestir uma roupa de ilusão e ter que viver tentando provar para si (e muitas vezes para o mundo) que aquilo é a solução do planeta (e do seu excesso de peso)
Até a próxima!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Sensacional!!! Concordo com cada palavra, Marina. Além de tudo, a dieta te priva de muitas eventos sociais, ou você vai e fará “sacrifício” o tempo todo. A maioria não é sustentável, não é inteligente e não te ensina o que é comida de verdade. Comer bem é comer de forma equilibrada e, continuo repetindo, cozinhar é libertador nesse sentido.
[…] falar que as dietas restritivas não funcionam, já que depois de algum tempo se tornam insustentáveis. Mas a pergunta que você […]
Sensacional!!! Concordo com cada palavra, Marina. Além de tudo, a dieta te priva de muitas eventos sociais, ou você vai e fará “sacrifício” o tempo todo. A maioria não é sustentável, não é inteligente e não te ensina o que é comida de verdade. Comer bem é comer de forma equilibrada e, continuo repetindo, cozinhar é libertador nesse sentido.