Conheci o trabalho da Solo.oatelie através do instagram magnífico de Babi Amaral. Fiquei encantada com o trabalho da Isabela e quero muito que você conheça. Artista plástica, sensível e talentosa, ela transformou seu olhar e posicionamento em arte para todas nós, mulheres.
Isabela é de Belo Horizonte e desenha roupas desde pequena. O interesse dela pela moda, sempre foi natural e grande parte de sua formação se deu de forma autodidata. A SOLO.CO, nasceu entre 2014 – 2016 e a princípio falava mais sobre corpos diferentes do padrão do que de um posicionamento político. Foi quando Isabela entrou na Escola Guignard (UEMG) em 2016 que ela percebeu uma mudança na vida e consequentemente, na marca.
Conversei com ela!
Ela conta que a primeira frase que ouviu na universidade foi “Aqui você pode fazer qualquer coisa!”, e embora tenha encontrado muitos “nãos” pelo caminho, acreditou no que ouvia. “A partir do momento que você se compreende produtor de questionamentos, você pode fazer qualquer coisa.” O sonho de criança, aconteceu!
Sua pesquisa tem como objeto central a divisão sociotécnica e sexual do trabalho. “Questiono a coisificação da mulher, a objetificação feminina e como isso impacta na composição fundamental da ordem social estabelecida na realidade contemporânea.” As peças que já eram únicas, passaram a ter estampas exclusivas, pintadas e bordadas a mão, criando o diálogo entre o estranho e o pop, trazendo um tipo de modelagem que foge do padrão “sexy”, ela complementa.
“Acredito que mais importante do que a galeria é a rua. Mais potente que as paredes brancas do museu, são os corpos que andam por aí. Nossos corpos são telas e é nessas telas que eu quero pintar. Não existe, para mim, nada mais político que nosso corpo, por isso é onde quero, principalmente, que o trabalho esteja.”
Isabela é muito sensível, transita entre os universos da moda e da arte a fim de criar uma realidade consciente e questionadora. “Vejo o corpo feminino como uma tela em branco, quase apagado pela sociedade, mas subvertido em padrão e repetição.”
“Peito sobre peito. Corpo sobre corpo. Abaixo a censura.”
A blusa de peitinho está disponível desde 2016 em todas as coleções de maneira reformulada. É o carro chefe da SOLO. “Entendo que ela tenha esse poder de questionar em segundos a censura do corpo feminino.”
Isabela lembra da sua experiência de quando foi censurada em uma performance no Palácio das Artes, ao aparecer com os peitos desenhados sobre os peitos dela. “O corpo feminino censurado até na instituição de arte? Censuradas, silenciadas, reprimidas, oprimidas, assassinadas. Até quando?”
Eu, assim que vi, achei que fazia muito sentido. Escolhi a peça. Foi um cropped. Isabela me enviou com um giz, para que eu pudesse fazer o desenho do meu corpo na blusa e devolvi para ela finalizar. É claro que, com a sua sensibilidade, ela faria o processo todo sozinha e ficaria lindo, mas preferi assim, para ter mesmo essa vivência de me desenhar e queria te contar como foi.
E eu adorei. Perceber a nossa imagem, a real e imaginária, sentir e experienciar as limitações do corpo, foi muito bonito. O processo de aceitação do nosso corpo não acaba nunca, e a desconstrução de tudo que vamos aprendendo ao longo da vida precisa ser diária. Já tinha gostado da ideia pelo ato político que ela representa e acabou tendo também esse viés do meu olhar, mais uma vez, para o meu corpo. Recomendo.
Isabela não tem expectativa de que a Solo seja uma grande tendência, mas sim, deseja fugir de tudo que é imposto, massificado, com um olhar importante sobre a individualidade de cada um. Todas as peças são produzidas de forma integral, da escolha do tecido, até o acabamento final, pelas suas mãos apaixonadas.
“O que me inspira a trabalhar são as mulheres. O que me inspira a viver, a criar, a pensar. Estamos em 2021 e, embora tenhamos conquistado muitas coisas nas últimas décadas, ainda falta muito para sermos equiparadas aos homens. Acredito que isso esteja relacionado a como nós mulheres somos oferecidas como um produto a todo momento, no mercado. Isso constrói a mulher objeto. Mulheres rivalizam umas com as outras, por verem na outra, um objeto. Homens nos desejam de maneira quase ignorante, pois nos veem como objetos. Essa lógica antiga e inadequada segue sendo realidade e isso me dá forças para trabalhar, para questionar, para relembrar que estamos no caminho, mas que para chegar precisamos asfaltar a estrada juntxs. A resistência que é ser uma mulher, a resistência de ser “a mulher que eu quiser”, por mais difícil que isso possa ser à nós, é o que me inspira.”
Achei incrível e um privilégio ter Isabela entre nós!
Para conhecer mais do trabalho dela, veja o site pessoal, de artes plásticas, é www.isabelasolo.com e o site da SOLO. é www.solooatelie.com . Para comprar é pelo direct no instagram @solo.oatelie ou mensagem no site.
Um beijo!
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